sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Era uma vez uma joaninha

O blog começou. Mas a joaninha já existe há muito tempo (dependendo do que você entende por joaninha, e por tempo também). E, por mais incrível e fora do normal que isso possa parecer, a joaninha tem muitas semelhanças com os humanos que vivem na Terra. Mas, no geral, os humanos procuram sempre serem muito diferentes da joaninha.
Vale ressaltar que a joaninha em questão não é uma joaninha qualquer, dessas que voam de galho em galho e que de vez em quando aparecem na sua frente para que você possa dizer que é um sinal de 'sorte'. Sinto dizer que não. Essa joaninha não acredita na sorte, e muito menos no azar.
Por isso, se um dia você por acaso a ver, é recomendado não acreditar nela de primeira. Quem sabe, nem de segunda. Não porque a joaninha mente, mas sim, porque ela provavelmente estará ocupada demais procurando a sua própria sorte.
Essa joaninha já vôou bastante, visitou diferentes flores e provou de diferentes pólens. Ela já aprendeu a voar e, desde então, tem sérias dificuldades em manter suas patinhas no chão. Suas antenas estão sempre ligadas e nunca pára de captar sons, cores, movimentos e possibilidades.
A maior alegria da joaninha é voar por aí, estar por lá e voltar pra cá. E por mais que a joaninha já tenha feito isso bastante, ela já contou que pretende nunca saber o significado da palavra 'suficiente'.
Não prenda a joaninha, ela voa. E, se prender, ela fica sem ar e perde a força pra voar. Ou até esquece como. Se esquecer, abra as asas dela. Só não vale se arrepender se ela não quiser mais voltar. A joaninha demora pra mudar, mas, quando muda, ela nunca esquece.
A joaninha andou perdida de uns tempos pra cá. Andou se mudando pra longe e acabou caindo nas garras do seu pior inimigo inseto: a aceitação. Sorte da joaninha (ou não, porque a joaninha não acredita na sorte) é que, se as suas asas não a deixam voar, elas nunca deixam ela parar de sonhar.
E nesses sonhos é que um belo dia a joaninha acordou e se lembrou de sua melhor e inseparável amiga: a intensidade. Joaninha geralmente não ouve conselhos, mas, dessa vez, valeu a pena seguir o aviso da amiga. O que a joaninha tem que fazer é simples: voltar a ser joaninha - e não só mais um inseto que por aí voa batendo asas sem querer.
Errado é quem pensa que joaninha não tem coração. É pequeno, mas bate. E suporta. Só não peça pra ele perdoar, ele não é tão desenvolvido assim. De qualquer forma, a joaninha também sabe amar, apesar de conviver todo dia com a ideia de que, por mais que ela queira ser igual aos outros, os outros não querem ser iguais a ela e viver o dia como se fosse o último.
Pode conquistar a joaninha, ela deixa. Afinal, nem as joaninhas gostam de ficar sozinhas. Só não conte com nada. Por mais que a joaninha goste da flor, ela nunca sabe quando deve partir, só sabe que uma hora esse momento chega. Um dia, quem sabe, e se valer a pena, ela pára de bater as asas.
Essa joaninha aqui está pra declarar vontades, gritar incomodações, recomendar o que vale a pena, indicar lugares pra voar, mostrar referências pra ver, inspirar e escrever sentimentos. Afinal, a joaninha observa, sente e fala. E, se você quiser, pode ser ouvida também.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Momento Clarice

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insisteem pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está
um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
(...)
Que não endurece, e mantém sempre viva aesperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.Tantas vezes provocado.Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimase faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamentec ontra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei ma lquando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
(...)
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado,f az questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta."

Mark Ryden




Com uma mistura de cultura pop, importância social e surrealismo, Mark Ryden faz um trabalho fantástico. Ou melhor, inquieto - com traços, tons e detalhes que vão além de um significado simples. Ele desafia o público com uma estranheza predominante, mas que causa confusão por conter elementos que não deveriam ser estranhos por fazerem parte da realidade.





Primeiro, o público se admira com a beleza. Depois, percebe os elementos inquietantes e questiona. E por último, percebe que nas obras, as crianças refletem uma honestidade que não mais combina ou dá conta das situações em que elas se encontram. Como se fosse uma infância perdida.

UIPA: Naughty Pets


Taí um jeito diferente (e eficiente) de fazer comunicação com os direitos dos animais.
Propagandas impactantes são boas e podem abrir os olhos com uma facilidade gigante, mas nada melhor do que a simplicidade. E a questão da propaganda é muito simples: cães são amigos. Não importa se é um Chihuahua ou um Akita ou vira-latas (the naughty one). Se você estiver na melhor, eles estarão lá. E se estiver na pior, nem é preciso falar. Mas a UIPA não lida com cenas lindas da Lassie correndo atrás do seu dono por montes verdes. Lida sim com uma ilustração foda e não necessariamente bonita, que varia com diferentes personagens em situações idiotas em que tudo dá errado no nosso dia-a-dia. E que, quem diria, se a gente deixar... os melhores amigos estarão lá custe o que custar.

Confira o texto:

"Regina was a bilingual secretary in a HUGE company and had to deal with very important people. She was HAPPY.
She had completely forgotten how ugly she was when her boss hired an incompetent and mean supermodel to manage all the office. Regina hated her. So she went out to look for a mutt dog and found the uglier dog ever. The plan was to give it to the enemy so she could catch some disease! Thing is Regina herself fell in love with the dog. You know, they were both so ugly and so clever that she felt safe with him. Well, she quit her job. And SUPERMODEL (the dog) is still with her. And so it was.
So this is the story Regina tells everybody. Truth is she went to this place & simply found the perfect dog. You think the story is not that spicy, hu? Make up yours! Adopt a naughty pet!!!"

Fonte: Ads of the world

Parama Sukha

Se existe ou não existe, quem sou eu para dizer?
Pode até ser utopia essa tal parama sukha,
sukha parama.
Felicidade suprema que vai e volta,
fica e vem,
acorda e adormece,
existe e desaparece.
Há quem acredite e há quem custe acreditar,
como ele, como você.
Acontece que felicidade não é um estado pleno de estabilidade e desaventuras,
não é um estado totalmente aceitável e acostumado.
Felicidade não é hábito, mas sim, a ausência de hábitos.
Ser supremo é estar no ápice.
Se entre indas e vindas tudo desaba,
é preciso procurar a causa do desabamento.
Jamais duvidar da existência da tal felicidade suprema.
Isto porque não me restam dúvidas:
ela está no calor do beijo,
no riso sem controle,
nas lágrimas sem razão (felicidade não existe só na alegria, mas sim nos motivos verdadeiros que fizeram ela sumir)
e na vontade de estar vivo.
Intensamente vivo.
Se você não acredita, eu acredito.
Não me faça desacreditar.
E falo mais: ela existe enquanto houver intensidadee amor-próprio.
Ela morre não na ausência ou na volta,
mas sim, no excesso de segurança e comodismo.
Parama sukha é real enquanto for tatuada na alma,
parama sukha não tem fim.
Sabe a eternidade?
A busca é eterna.
Alcança-se a felicidade e logo em seguida é visto que se pode ser ainda mais feliz.
Se ontem não sorri é porque algo em mim está ausente, comprimido e agonizante.
Não tenho culpa de assim ser.
Tenho desejo de viver,
é urgente,
dias em vão me deixam sem ar.
Loucura, pode ser.
Mas, assim como o melhor amigo da loucura diz,
"o mais ardente de todos os seus desejos é poder viver eternamente em meio aos transportes deliciosos dessa feliz loucura".
Sejamos loucos, sejamos sim.
Loucos aos olhos dos outros,
felizes dentro de nós mesmos.
Lúcidos fecham portas,
enquanto loucos pulam a janela,
vivem altos e baixos,
mas nunca deixam de acreditar.